The show must go on...

Há muitos, muitos anos havia um circo itenerante que andava de terra em terra a apresentar o seu espectáculo! E um belo dia lá calhou de vir até Valongo!

Os artistas eram só três, mas lembro-me que valiam por dez... O apresentador, o malabarista, o faquir, a contorcionista, o amestrador de feras (que agora me lembro só haver um cão....), mas o que mais me prendeu a atenção foi nem mais nem menos do que o ilusionista!

No final de cada show, a jovem circense passava de pessoa em pessoa com o seu chapelinho a recolher o apuro da noite.... e eu, maravilhada, batia...batia muitas palmas, mas dinheiro nem vê-lo, porque nem um escudo eu levava no bolso!!!

Foi essencialmente a partir desse episódio que eu decidi que não queria ser bailarina, médica ou hospedeira de bordo. Nada disso!! Eu queria ser mágica...Isso mesmo, amigos, e comecei então a minha busca pelo número perfeito que me distinguisse dos demais...

Por duas vezes tentei o truque do desaparecimento:

Um dia estavamos todos a vindimar em casa e eu para aí com os meus cinco anitos decidi esconder-me no meio das videiras, de repente só se ouvem gritos...era a minha rica mãezinha que se encontrava a costurar na cozinha e quando olhou para cima e viu as minhas pernas penduradas e eu toda contente agarrada aos arames a quatro metros do chão! Quaser lhe dava um chilique!!!Realmente, como estava totalmente encoberta pela folhagem ninguém me via... teve que vir a minha mãe estragar-me a alegria!

Noutra ocasião por volta dos sete anos, fomos à praia. Eu, as minhas três irmãs e mais duas primas sob a guarda dos meus tios e eu decidi ir ao mar...ninguém quis vir comigo, portanto fui caminhando, caminhando de balde na mão, e ia pensando como devia ser engraçado ver a cara deles se eu desparecesse...até que cansada de tanto andar, apeteceu-me voltar e...ups...mas onde é que eles estavam?? Olhava em redor, nada! Estão bem a ver a praia de Matosinhos? Imaginem o tamanho dela aos olhos de uma criança... Desatei num semelhante pranto que uma boa alma lá veio falar comigo e me levou até ao sítio onde estávamos e...quando chegámos à beira do meu tio, sim porque todas as outras andavam à minha procura ele deitou-me um olhar fulminante tal, que não tive outro remédio senão abandonar o projecto... Aliás nunca mais ninguém me deixou sozinha... aparentemente deixara de ser de confiança...

Entretanto, lembrei-me que havia um número de caminhar sobre vidros bem fixe...Tinha havido umas obras lá em casa em que se tinha substituído umas portas de vidro por portas de madeira... Entrei à socapa na arrecadação e parti um dos vidros à cotovelada.... O sangue a jorrar por todo o lado e as dores tão lancinantes.... que já nem quis saber de mais nada...

Os truques com as cartas também me pareceram porreiros. Ensinaram-me a sueca, depois o americano e finalmente o king, e eu fiquei de tal maneira viciada que só saía para comer ou dormir... o prémio não era dinheiro, não (ainda eramos demasiado pobres na altura...). Nós jogavamos a pacotes de sugus...e olhem que eu ganhei uma montanha deles, não é minha querida irmã Bé?

Foi o fim de um sonho bem feliz, mas contento-me agora com o programa do Luís de Matos que, com os seus olhos penetrantes lá nos vai demonstrando o seu talento! E por falar nisso, no caso de eu voltar ao showbizz, alguém se candidata a ser meu/minha partinére para aquele número em que o artista serra a sua vítima a meio???

Inês